O representante então respondeu usando o filme Star Wars como metáfora. O filme fala sobre uma terrível força estrangeira e impositiva, conhecida como Império, que queria tornar toda a galáxia sua. Assim, alguns poucos rebeldes, lutando pela liberdade com a ajuda de uma religião antiga, se levantaram para combater o império. Pois bem, os Estados Unidos eram o Império e os Rebeldes eram eles, aqueles que o repórter por muito pouco não chamou de terroristas. Com isso você deve imaginar a reação do repórter! Por isso, ele nunca esperava. O que este reporter testemunhou foi a constatação de que as coisas são complexas pois elas tem lados. Não só dois, nem quatro, mas vários, e alguns se confundem, outros se conflitam e alguns sequer podem ser entendidos. Como você mesmo pode comprovar dando um pulo na wikipédia, Maniqueísmo é:
A política, em âmbito internacional, descobriu que o maniqueísmo dá mais votos do que debater ideias. Colocar qualquer assunto de forma plana, rasa e binária (nós contra eles) virou lei nos quatro cantos do globo terrestre. O maniqueísmo político ajuda a frear ondas progressistas, instituições sérias e idôneas e o combate à corrupção. Enquanto estimula o corporativismo, a corrupção e o sentido de "pertencimento" de muitas pessoas que não sabem lidar com um mundo complexo. Quando assuntos complexos são colocados de forma maniqueísta parece que temos a solução para tudo. O problema, todo o problema, são "Eles" (e aqui substitua "eles" por aquilo que você quiser... comunistas, terroristas, vanguardistas, criminosos, conservadores, homens, mulheres, crianças, revistas em quadrinhos...). Vamos colocar num video que exemplifica tudo. Feito em 2017, escrito e dirigido por Neel Kolhatkar. O video deixa claro, bem claro o problema: "Eles". E de forma bem caricata vemos que "Eles" são pessoas ruins, malévolas, com as piores intenções possíveis e sempre - ardilosamente - preparando mais um assalto conta "Nós", os que fazem tudo certo. Mudanças abalam. Mudanças causam medo e estranhamento. Mas o mais importante, quando tudo é novo, nem sempre podemos usar velhos truques, temos que aprender novos. E nem todo mundo é um fã de recomeços. E tudo isso nos leva a uma busca por saídas simples: acuse aquele que você já não gostava e que de certa forma "tomou" aquilo que era "seu". Tire a culpa de si mesmo, e coloque no outro. Simplifique tudo criando o "Bem", que é aonde você está, e o "Mal" que é tudo aquilo que você não gosta. Então se você: a) perdeu uma posição profissional para uma mulher; b) achou injusto um estudante com necessidades especais ter provas diferenciadas e mais "fáceis" que as suas; c) tem certeza de que toda expressão de "boa forma", "higiene corporal", "cuidados de beleza", entre outros são frescura e puxa saquismo de quem não tem mais nada a oferecer. Você vai se ver no vídeo. E desta forma você se sentirá na pele do "jovem protagonista" que "faz tudo certo" mas está num "sistema injusto que valoriza tolices" em vez de valorizar o que é "certo". E o que é "certo"? Ora, é aquilo que você sabe. O certo. Nada mais. Vamos ver o que pensa um psicanalista, o professor Christian Dunker, sobre o assunto: Nós precisamos criar uma narrativa que nos ajude a entender o que somos. E ao questionar essas narrativas, ao classificá-las como "tóxicas" ou "necessárias de revisão", estamos nos colocando em situações de fragilidade. E ninguém quer isso. Uma coisa é a realidade objetiva, outra nossas fantasias. Na questão do repórter há uma ambiguidade extrema! Tanto os Estados Unidos quanto os Fundamentalistas Religiosos estão no espectro "tóxico". Ambos causam estrago e nenhum dos dois está comprometido com nada além de dominação. Ou seja, seguindo a metáfora ambos são o Império. Mas aceitar isso traz dor. E não gera votos. Ninguém consegue votos dizendo: "olha eu quero lhe fazer mal, vote em mim que vou te destruir". Então a política teve que se alinhar com o maniqueísmo para se manter altamente tóxica e repreensível, só que agora com milhares de eleitores a defendendo. Neste video de propaganda anti-bullying podemos vez exatamente tudo isso que falamos, todos os efeitos que o maniqueísmo nos leva. Quando perdemos a noção da complexidade das coisas, quando paramos de questionar e pensar. Quando simplesmente aceitamos e colocamos só sentimentos acima de tudo... Perdemos a conexão com o real. E as consequências são terríveis. Em conclusão, existem escolhas simples? Não.
Estamos todos aprendendo. Todos nos modificando com o tempo. Passando por profundas mudanças. E só conversando sobre elas, discutindo, colocando na mesa, conseguiremos chegar a algum lugar. Ninguém tem respostas quando se trata do desconhecido. Lembre-se disso.
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Entretanto numa análise mais profunda percebemos que o antagonista é o responsável por um dos momentos mais importantes para o protagonista: a derradeira hora onde ele tem que salvar a si mesmo; entendendo de forma clara seu valor e o peso de suas ações. Neste sentido o antagonista é um aliado. Mas e se saímos da literatura? Este sentido mais profundo onde o antagonista deixa de ser o mal, e se torna parte daquilo que achamos que o protagonista representa, o bem? E não é este sentido que acaba destruindo os conceitos absolutos de luz e trevas e começa a transformar tudo em contornos com várias e várias cores? Vamos observar na psicanálise duas falas, dois vídeos, do psicanalista Christian Dunker, em seu programa no You Tube, o "Falando Nisso". No primeiro vídeo ele fala sobre autossabotagem e no segundo sobre transtorno de oposição desafiante ou transtorno desafiador opositivo. Repare que em ambos os videos o sentido de antagonismo vai sendo moldado de uma "aparente vilania" para parte da comunicação. Parte legítima da expressão de nossos sentimentos e ideias. Uma expressão que parece, soa e é destrutiva, mas quando analisada com a ajuda profissional se torna uma oportunidade de amadurecimento e engrandecimento.
Por fim, para deixar o assunto ainda mais profundo, que tal pensarmos em termos físicos? Vamos pensar um pouco sobre coisas que são "A" e "B" ao mesmo tempo, sem ser uma mistura, soma, ou qualquer outra conta que conhecemos? Existe precedente para o antagonismo como aliado na física? Neste video do canal do Pedro Loos, "Ciência Todo Dia", vamos entender de forma bem educativa o que foi o experimento mental proposto pelo físico Erwin Schrödinger, o chamado O gato de Schrödinger. Somos como as crianças do filme "o senhor das moscas"... sem nada a nos cobrar a não ser nós mesmos. E isso, isso é o estopim de toda a beligerância de nossa existência. Nós não temos propósito. Nos somos frutos de algo diferente, de "doação". E somos incapazes de lidar com isso. Doar, para que nós possamos entender, está ligado a sentir-se bem. Portanto uma troca. Troca é algo que entendemos bem. Mas doar não é nada disso, a vida é uma doação. Talvez o melhor exemplo. É algo dado, sem nada, absolutamente nada atrelado. Ao nascermos não há ninguém a nos regular a não ser nós mesmos. Humanos regulando humanos. Ninguém mais. Então como esperamos que as pessoas possam agir de acordo com as prerrogativas sociais? Nossas estruturas são frágeis pois lidam com algo extremamente subjetivo e não quantificável... liberdade absoluta. Aonde você pode fazer absolutamente o que quiser, sem medo de nada, absolutamente nada a não ser as consequências de seus atos. |
Mitologia não é mentira, é poesia... metáfora.
― Joseph Campbell, O Poder do Mito Categorias
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